O que é a pixação, na realidade? Um movimento antropofágico?! - Valei-me Oswald de Andrade!
Há muito preconceito sobre esse tipo de manifestação, mas apesar dos pesares, que os Srs. Reacionários deem com os burros n'água, pois ainda que o tenhamos como crime, é uma manifestação cultural - destaco, que não quero com isso fazer apologia, nem incentivar ações de vandalismo, mas gostaria de questionar as relações existentes entre esse tipo de expressão visceral, o graffiti, a arte e o mercado. Acredito que as fronteiras entre esses meios tem se diluído, muitos grafiteiros famosos e associados a grandes galerias iniciaram a "carreira" na pixação. Permanece a indagação, o que é a pixação?
A cena mais emblemática de PIXO, documentário dirigido por João Wainer e Roberto T. Oliveira, mostra a reação histérica de uma artista plástica à invasão de um grupo de pixadores no Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo. Ao perceber que sua “obra de arte” é alvo do spray do rapaz encapuzado, a mulher-escândalo esbraveja: “Prende esse filho da puta!”. Impossível permanecer indiferente ao efeito desestabilizador que o ataque provoca na instituição. Horrorizado, o senhor de gravatas & bravatas contra-ataca: “Isso [o pixo] é uma porcaria!”.
Sim, o PIXO incomoda. É crime. Agride. Mas é também o mais explosivo manifesto de quem sobrevive à margem dos meios de produção. Iniciado como protesto político no período militar. Adotado pelo movimento punk. E transformado, a partir da década de 1980, em linguagem cifrada, o PIXO não quer se comunicar. Quer esculhambar. Sua tipografia – indecifrável para os intrusos – surgiu da runa, antigo alfabeto céltico. Hoje, cada pixador tem “assinatura” própria. Riscos & rabiscos que, de repente, viraram indagação acadêmica: PIXO é arte?
João Wainer:
“Não sei. Mas acho forma de expressão das mais sofisticadas. Aquelas
letras estampadas nos muros não são garranchos. São logotipos
elaborados, que demandam muito treino para serem feitos e decifrados.”
Tiago Mesquita,
crítico de arte: “Muita coisa boa no mundo não é arte. Por que as
pessoas acham que qualquer experiência expressiva precisa ser arte?”
PIXO
na Fundação Cartier, em Paris, onde o filme fez parte da exposição “Né
Dans La Rue”. PIXO na 29a Bienal de São Paulo, atacada por pixadores em
2008. “PIXO é arte da pobreza”, dispara a garota no documentário. A
questão, claro, divide opiniões no circuito das galerias. Uns acham que
sim: PIXO é arte. Para outros, não passa de “vandalismo”. O debate deixa
outra pergunta no ar: será que estão tentando “capitalizar” o PIXO?
João Wainer:
“Existe o risco. Mas, se a sociedade passar a gostar da pixação, ela
perde o sentido. O PIXO só existe porque é ilegal, gera ódio. Torço para
que não seja incorporado.”
Em
tempo: será que toda essa discussão ainda é válida num momento em que
fazer “arte” é atividade cada vez mais voltada ao lucro e ao
entretenimento?